domingo, 31 de maio de 2015

MEMÓRIA -

MEMÓRIA - Nos primeiros anos da década de 70, entre o final do Governo Médici e início da Gestão de Ernesto Geisel, os órgãos de repressão aumentaram o cerco aos que faziam oposição ao regime militar. Mais pessoas foram mortas.
Em São Paulo, somente entre 1973 e 1975 oitenta militantes políticos foram assassinados. A maioria morria sob tortura. Com o grande número de mortos surgiu um problema. O que fazer com os corpos? O que dizer à sociedade?
A versão preferida da ditadura, na época de Médici, era publicar notas nos jornais e emissoras de TV comunicando que militante tal ou comunista tal trocou tiros com a polícia e morreu. Outras vezes se divulgava a versão de suicídio. Com mais e mais gente morrendo (sendo matada) ficou difícil fazer a população acreditar em tanta troca de tiros e tantos suicídios.
Foi aí que nasceu a figura do Desaparecido. O homem, a mulher ou uma criança vítima de esquadrão da morte era eliminado e simplesmente “desaparecia”. Não estava vivo nem morto, evaporava e nem os familiares eram informados nunca do que aconteceu de fato.
Isso criou um mistério no Brasil por muitos anos. Apenas uns 20 anos depois de iniciada essa prática se teve a primeira pista do que os agentes da repressão estavam fazendo com os sumidos.
Na década de 90, no Cemitério Dom Bosco, de São Paulo, foi descoberta uma vala para enterrar como indigentes ou desconhecidos pessoas mortas pelo regime militar. Foram descobertos centenas de corpos e a imprensa ficou meses dando notícias sobre o caso. Até uma minissérie da TV Globo (Anos Rebeles) tratou do assunto e a prefeita do município de São Paulo da época, Luíza Erundina, então no PT (hoje PSB) deu todo apoio para que a verdade viesse à tona.
Em 2012 um delegado aposentado, Cláudio Antônio Guerra, deu um depoimento transformado em livro com novas revelações sobre o destino dos desaparecidos. Ele confessou ter participado da “guerra suja” dos tempos da ditadura e informou que a Usina Cambayba, localizada no município de Campos (RJ) de propriedade da família do empresário Heli Ribeiro, servia de “campo de concentração e desova" dos militantes mortos sob tortura nos porões do regime. Pela ajuda ao Governo, o empresário recebia generosos empréstimos dos bancos oficiais.
Assim como no Cemitério de Perus, em São Paulo, muitos cadáveres foram ocultados na usina do interior do Rio de Janeiro.
Segundo o delegado e torturador,  o pernambucano Fernando Santa Cruz e seu amigo Eduardo Collier, presos e que desapareceram no mesmo dia, foram levados à Usina Cambayba. Funcionava como um campo de concentração e tinha um equipamento para incinerar completamente os corpos. A tecnologia podia ser nazista, mas isso funcionou e aconteceu aqui mesmo no Brasil.

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