quinta-feira, 9 de junho de 2016

Em Campinas, Dilma diz que governo Temer quer silenciá-la

O país está sendo governado por um grupo que segue a agenda particular do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)", afirmou a presidenta afastada

Publicado em: 09/06/2016 20:34 Atualizado em:

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) se reuniu com cientistas, artistas e jornalistas em Campinas (SP) nesta quinta-feira e visitou o Projeto Sirius, o maior investimento já feito no País em um único projeto científico. Em um almoço na casa do físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite, onde estiveram presentes celebridades como o ator e diretor José Celso Martinez Corrêa, o escritor Fernando Morais, os jornalistas Juca Kfouri e José Trajano, Dilma voltou a dizer que "é vítima de um golpe" e disse que "o país está sendo governado por um grupo que segue a agenda particular do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)". Também afirmou que há ações para silenciá-la e para silenciar quem quer apoiá-la.

"É uma pauta ultraconservadora socialmente e ultraliberal na economia. Nós estamos levantando essas propostas para que todos saibam o que eles querem implantar", disse Dilma ao final do almoço. O discurso foi transmitido ao vivo pela internet por um integrante do PT. Dilma criticou o PMDB e outros partidos de centro, que ela afirmou terem se transformado em partidos de direita. "Estão querendo implantar um projeto que não tem voto, que sempre foi rejeitado nas urnas".

Dilma também disse que há dois tipos de ruptura democrática, um é a ditadura e outro o golpe parlamentar. "O golpe militar é como cortar uma árvore de uma vez só. Já o parlamentar, que é o que estou sofrendo, é como colocar parasitas na árvore para que ela morra aos poucos".

Impedida de usar aviões da FAB para voos que não sejam para Porto Alegre, onde vive sua família, Dilma viajou a Campinas com um avião fretado pelo PT. No condomínio de classe alta onde foi almoçar, enfrentou manifestações a seu favor e também contra no portão de entrada. No interior do condomínio, alguns moradores se manifestaram contra a petista, com xingamentos e buzinaço com cerca de 10 veículos. Seu discurso chegou a ser interrompido por um rojão lançado perto da residência onde estava. O susto foi substituído por gargalhadas, quando o jornalista Juca Kfouri gritou: "vai Corinthians!".

"Essa intolerância não era uma tradição no País, não era essa a arma que se usava. Querem nos silenciar, pois se nos deixarem falar sabem que há riscos de mudança na opinião política da população", disse.

Apoio
Dos manifestantes favoráveis, Dilma ganhou flores, abraços e tirou selfies com pesquisadores.

Mas entre as manifestações hostis dos moradores do condomínio, duas pessoas destoavam. Dagmar Canguçu, 90 anos, esperava na frente da casa em uma cadeira de rodas e tinha a esperança de ganhar um beijo da presidente. "Gosto muito dela, é muito humana e não cometeu nenhum crime. Acho injusto o que fizeram com ela sem ter uma razão forte para isso", disse. Ela deixou o local sem conseguir entrar na casa.

Uma estudante de administração, cujos pais vivem no condomínio, também aguardava a saída de Dilma para mostrar um papel com a frase: "Volta, Dilmãe". Ela guardava discretamente o cartaz, com receio de ser hostilizada. Dilma saiu cercada de seguranças e não falou com manifestantes e nem com a imprensa.

Ciência
A presidente afastada criticou ainda o atual governo pela aparente falta de atenção para as áreas de ciência e para as artes. "Essas são duas áreas essenciais para o Brasil. Quando vejo aqui o Zé Celso, não posso deixar de lembrar da importância das artes. E, visitando o Sirius e me reunindo com cientistas, vejo a importância da ciência para o Brasil e sua população".

Dilma citou uma pesquisa desenvolvida no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que pode resultar em aplicação de medicamentos contra o câncer que atinjam somente as células doentes. "Quem teve câncer, como eu, sabe o preço que se paga por ter tudo quanto é célula do corpo afetada". Em 2009, Dilma perdeu os cabelos por conta da quimioterapia, entre outros efeitos colaterais. A nova pesquisa pode acabar com esse tipo de inconveniente no tratamento.

O Sirius é um novo acelerador de partículas, muito maior que o LNLS, que está sendo construído em uma área ao lado. Ele custará cerca de R$ 1,7 bilhão e será o mais avançado do mundo, com previsão para iniciar as atividades em 2018. O acelerador é essencial para o desenvolvimento de pesquisas com resultados para a indústria farmacêutica, química, desenvolvimento de materiais, geologia, medicina e exploração de petróleo, entre outras área

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